Todo mundo conhece alguém que tem um parente ou amigo “bom de internet”. O problema é que, no mundo real, isso raramente funciona.

Toda empresa tem aquele momento delicado em que precisa decidir: seguir o caminho profissional ou recorrer ao famoso “sobrinho que manja”. Pode ser o sobrinho, o primo, o vizinho do cunhado — alguém que, supostamente, entende de internet, mexe no Canva, tem um perfil com muitos seguidores e já fez o site do tio que vende artesanato. A promessa? Resolver tudo rapidinho e quase de graça. Parece tentador. Mas o resultado, na maioria das vezes, é um desastre com moldura de bom coração.

É compreensível. Nem todo negócio tem verba de sobra pra investir pesado logo de cara. E é aí que entra a sedução do improviso: “ele entende de tecnologia”, “ela faz umas artes lindas”, “ele viu um vídeo no YouTube e aprendeu a fazer tráfego pago”. Mas marketing digital não é feitiçaria. É método, é análise, é construção contínua. E é justamente por isso que tanta gente se arrepende depois da terceira tentativa frustrada de consertar o que o sobrinho fez “no amor”.

O mais curioso é que essa figura do “sobrinho digital” se repete em todas as áreas: tem o que faz site, o que mexe nas redes sociais, o que cuida do e-commerce, o que cria logo, o que faz vídeo, o que “entende de SEO”. E, em muitos casos, o mesmo indivíduo diz fazer tudo isso ao mesmo tempo. Multitarefa? Talvez. Mas a verdade é que ninguém se torna um bom profissional de marketing só porque cresceu com um smartphone na mão.

Tem empresa que só percebe o problema quando o Google derruba o site feito em servidor gratuito, quando o Instagram perde o alcance por falta de estratégia, ou quando o público começa a comentar erros grosseiros nas postagens. E aí a conta chega: é preciso refazer o site, reconstruir a identidade visual, rever o posicionamento e, muitas vezes, gastar o triplo pra consertar o que foi feito “de favor”.

Isso sem falar no famoso “ele sumiu”. Porque o problema do sobrinho não é só técnico. É também sobre compromisso, continuidade e visão de longo prazo. Profissional de verdade acompanha resultado, ajusta a rota, estuda o mercado e sabe que cada decisão impacta diretamente no bolso do cliente. Já o conhecido que fez tudo “pra ajudar” geralmente tem outras prioridades. E desaparece no primeiro desafio maior, como um bug misterioso ou uma campanha que não performou.

Agora, cá entre nós: não é falta de amor, é excesso de risco. Quando uma marca entrega seu posicionamento online nas mãos de quem não tem preparo, ela está brincando com a própria reputação. E reputação, no digital, não é algo fácil de reconstruir. Dá pra aprender com erros, claro. Mas aprender com os erros dos outros é sempre mais barato.

O mais interessante dessa história toda é que quase todo empreendedor tem uma anedota sobre um sobrinho designer, um primo programador ou um amigo publicitário. O folclore já virou quase um meme corporativo. E talvez o maior aprendizado aqui seja justamente esse: profissionalismo não se improvisa. Pode parecer uma economia, mas muitas vezes é só o início de um ciclo vicioso que adia os resultados — e mina a confiança na própria comunicação da empresa.

E aí, vale mesmo o risco?

Quando a boa intenção se transforma em dor de cabeça

O que começa como uma boa intenção — ou um jeitinho para economizar — logo se transforma num cenário caótico. O sobrinho, o amigo do vizinho, o colega da faculdade que “sabe mexer no Photoshop”, todos entram com boas intenções. Mas boas intenções não preenchem briefing, não geram resultados reais e muito menos criam autoridade digital para uma marca.

Marketing digital exige mais que boa vontade. Exige conhecimento, consistência, sensibilidade com o público e domínio técnico. E é aí que a diferença aparece: o profissional não atua no improviso, ele segue estratégia, planeja, analisa dados e sabe o que está fazendo. Já o amador depende do palpite, da sorte e da última tendência que viralizou no TikTok.

E o pior: muitas vezes o cliente só descobre que a bomba foi armada meses depois, quando percebe que:

  • O site não aparece no Google porque nunca foi feito com SEO básico;

  • O logotipo foi plagiado e vem com risco jurídico de brinde;

  • As redes sociais estão “bonitinhas”, mas não convertem nem geram engajamento;

  • Os anúncios estão sendo pagos, mas ninguém clica neles — ou pior, clicam pessoas erradas;

  • O e-mail da empresa vai direto pro spam porque foi disparado de forma errada.

Nada disso é raro. E o que mais dói no fim das contas nem é o retrabalho, é o tempo perdido. Porque no mundo digital, tempo também é dinheiro.

O marketing sem estratégia é como atirar no escuro

Muita gente ainda acredita que marketing digital é algo intuitivo. Que basta ter uma boa ideia, um pouco de “criatividade” e pronto, os clientes aparecerão. Só que não funciona assim. Um post engraçado pode até viralizar — mas se não estiver conectado com o objetivo do negócio, é só vaidade digital.

A diferença entre fazer marketing e “postar coisa legal” está justamente na estratégia. Não adianta criar arte bonita se não há mensagem clara. Não adianta impulsionar conteúdo sem saber quem é o público. E definitivamente não adianta ter um site moderno se ele não responde rápido, não carrega no celular ou não conduz ninguém ao contato.

É como colocar um letreiro bonito numa loja que fica escondida numa rua sem saída. Vai chamar atenção de quem?

Profissional de verdade começa entendendo o negócio, os objetivos, o posicionamento e o público. Cria personas, define linguagem, estrutura jornada de compra, desenha metas e acompanha os indicadores. Nada disso aparece no feed, mas tudo isso faz diferença no resultado.

Quando o digital afeta a reputação da empresa

A marca de uma empresa é como sua digital no mercado. E no ambiente online, essa digital é exposta o tempo todo. Um erro de português no post, uma imagem com baixa resolução, um comentário não respondido — tudo isso parece pequeno, mas constrói (ou destrói) a credibilidade da marca com o público.

O marketing feito por amadores geralmente não considera isso. Eles focam no visual, na postagem bonitinha, mas esquecem do todo. Esquecem que cada detalhe comunica algo. E que, no digital, reputação se constrói em silêncio e se perde num clique.

Alguns exemplos reais (e dolorosos):

  • Loja online que esqueceu de configurar o carrinho de compras — ninguém conseguia finalizar pedidos;

  • Campanha paga direcionando para página fora do ar;

  • Perfil profissional misturado com fotos pessoais do criador;

  • Marca que usava trilha sonora protegida por direitos autorais e teve conteúdo derrubado.

Isso tudo é comum quando o responsável não entende as regras do jogo. E quem paga é sempre a empresa.

A falsa economia que vira investimento dobrado

Um dos principais motivos que levam pessoas a escolherem “sobrinhos” ou “conhecidos” é a economia. Mas o problema é que, no final, a conta quase sempre fica mais cara.

Primeiro, pelo retrabalho. Refazer um site é mais caro que fazer do zero. Corrigir identidade visual demanda tempo e desgaste. Recuperar posicionamento de marca após erros de comunicação pode levar meses.

Segundo, pelo tempo perdido. Enquanto a empresa está tentando ajustar o que deu errado, os concorrentes estão voando com estratégias bem executadas. E tempo, nesse caso, é oportunidade desperdiçada.

Terceiro, pelo desgaste emocional. Porque nada é mais frustrante do que confiar em alguém, ver tudo sair do controle, tentar resolver e ainda precisar explicar para os clientes por que as coisas não funcionam direito.

A economia imediata vira prejuízo silencioso. E o mais irônico: muitas vezes o valor de contratar um profissional não é tão mais alto assim — ele só parece caro porque não se compara com o que se perde depois.

E se o sobrinho for realmente bom?

Claro, nem todo “sobrinho” é sinônimo de erro. Existem talentos incríveis começando suas carreiras, cheios de energia, com sede de aprender. A questão aqui não é sobre a pessoa em si — é sobre o processo.

Mesmo quem está começando precisa ter clareza sobre responsabilidade, compromisso, planejamento e resultado. Se o sobrinho for bom, ótimo. Que ele venha com um plano, com clareza de escopo, prazos definidos e metas mensuráveis. Que atue como profissional, e não como favor.

Mas se não houver essa base, o que deveria ser solução vira mais um problema no colo da empresa. Porque boa vontade ajuda — mas só profissionalismo entrega.

A curiosa origem do “sobrinho que faz”

Sabe o que é mais engraçado? Esse “sobrinho que faz site, logo, rede social, campanha e ainda edita vídeo” já virou personagem folclórico do mundo dos negócios. E não é à toa. Ele representa uma mistura perfeita de três coisas bem brasileiras: improviso, jeitinho e confiança na família.

A ideia de resolver tudo “dentro de casa” é antiga. No tempo das gráficas rápidas, muitos empreendedores pediam pro filho “mexer no Corel Draw” pra fazer o cartão de visitas da empresa. Depois veio o sobrinho que “sabia HTML” porque fez um blog na adolescência. Mais tarde, chegaram os que “editavam vídeo no celular” e criavam logotipo no Paint. E assim nasceu o personagem que até hoje dá o ar da graça nas reuniões de família.

Mas por que isso ainda acontece?

Porque o marketing digital, por ser um universo visual e acessível, dá a falsa impressão de que qualquer um pode dominar. Se dá pra baixar um app e fazer um post com template pronto, então é simples, certo? Errado. Simples é apertar um botão. Fazer dar resultado é outra história.

Outro fator curioso é o vínculo afetivo. Quando alguém da família diz “eu cuido disso”, soa natural confiar. Ninguém espera que o sobrinho errem de propósito. A intenção é sempre boa. Só que boa intenção sem técnica é como usar chinelo numa trilha de montanha — vai doer.

O mais interessante é que essa figura do “sobrinho polivalente” é tão comum que virou meme corporativo no Brasil. Em grupos de empreendedores, não faltam piadas com frases como “deu ruim com o sobrinho?”, “alguém aí conhece um sobrinho que entregou prazo?” ou “não se preocupe, meu sobrinho já está mexendo no tráfego pago…”.

E claro, sempre vem acompanhada da risada nervosa de quem já viveu essa história na pele.

Só que por trás do humor, tem algo sério: muitas empresas deixam de crescer porque não levam a sério sua presença digital. Subestimam o impacto que um bom conteúdo, um site bem feito ou uma estratégia bem executada pode ter. E superestimam a habilidade do conhecido, que “tira de letra”.

É como esperar que um parente que toca violão no churrasco dê conta de fazer o show principal de um festival.

Há espaço para aprender? Sempre. Mas é preciso saber a hora de chamar alguém com mais bagagem. Alguém que tenha vivido os erros, estudado as soluções, experimentado formatos, testado estratégias e — principalmente — que leve a marca da sua empresa com a seriedade que ela merece.

O sobrinho pode continuar no churrasco, claro. Mas o marketing? Esse é assunto pra gente grande.